– Corre Yoku!
– Estou indo o mais
rápido que posso mano.
– Você é muito
lerdo! – Exclama Kitai com um sorriso no rosto.
– Minhas pernas
estão doendo.
– Vamos logo Yoku, o
almoço está pronto.
– To indo mano!
Já se passaram dez
anos do nascimento deles, Kitai é mais alto e mais forte que o irmão, eles são
muito parecidos, mas ao mesmo tempo tão diferentes, Kitai é ambicioso e Yoku se
contenta com pouco.
Eles vivem com a
velha que fez o parto, o nome dela é Yuma, mesmo sabendo que ela não é a sua
mãe verdadeira, eles a chamam de mãe e isso a deixa muito feliz, já que ela
nunca teve filhos.
O vilarejo onde
vivem é cercado de árvores, pedreiras e córregos, o vilarejo é liderado por
Kin, um homem que lutou nas grandes guerras do passado, agora não passa de um
velho reclamão.
O vilarejo não é
muito grande, ao entrar pelo portão principal, a esquerda foi construído um
templo para os deuses, a direita uma horta, mais alguns passos a frente a casa
de Kin, a direita alguns casebres, a esquerda a casa Yuma e algumas árvores.
O chão é de terra
existem penas algumas pedras e belas flores na entrada da casa de Kin, que de
longe é a melhor casa do vilarejo, com muitas luminárias e feita da madeira das
melhores árvores.
Kitai repete duas
vezes a refeição, já Yoku come apenas um pouco e se sente satisfeito, talvez
fosse porque aquela comida era um pouco nojenta, Yoku não podia definir a cor
nem o que estava dentro do prato, apenas o cheiro que era muito ruim.
Yoku ficava enjoado
apenas de ver Kitai levando o garfo à boca com aquela gororoba. Yuma manda-o
comer mais um pouco, pois se não comece ficaria mais magro do que já era, ele
se nega, diz que já está satisfeito, é nesse momento que ela enche o garfo e
leva até a boca dele. Ele corre a uma velocidade impressionante até o banheiro
para vomitar, Kitai com a boca cheia de comida desaba em gargalhadas.
A noite começa a
cair, o vento que sopra naquela noite é diferente do de costume, tudo estava
tão estranho, os cães latiam sem parar e os outros animais estavam inquietos.
O velho Kin estava
sentado em sua cadeira de balanço quase tão velha quanto ele, seus olhos
vidrados em direção ao nada, parecia que estava pre sentindo algo, só lhe
restava esperar.
Foi quando ele
sentiu um calafrio e desviou o olhar, quando retornou olhar, viu em sua frente
um homem com um sobretudo preto e um capuz, roupa geralmente usada pelos
ninjas.
– Veio me matar? –
Perguntou o velho com uma cara de nojo.
– É, parece que vocês
têm um bom lugar para viver, hoje em dia é difícil encontrar um lugar assim. –
Respondeu o homem misterioso sem desviar o olhar.
– Peço que nos deixe
sair vivos e tudo será seu, sem conflito. – Resmungou o velho.
– Parece uma boa
ideia... Mas não! Imagine como ficaria a minha reputação se algum inimigo meu
descobrisse isso. – Disse o homem sem demonstrar piedade.
– Vejo a morte em
seus olhos... Qual o seu nome filho? – Diz o velho com a voz calma.
– Tenebris é o meu
nome.
O tal homem
misterioso ergue vagarosamente uma espada, o brilho segou o velho Kin, que a
admirava enquanto ela se aproximava dele. Com um único golpe ele arranca a
cabeça do velho, o sangue se espalha pela parede atrás do corpo de Kin.
Outros cinco homens
com as vestes muito parecidas com a de Tenebris surgem em meio às sombras, –
Comecem! –, disse Tenebris aos homens.
Eles começam a
entrar nas casas e matar os moradores, Yuma se acorda com os gritos das pessoas
atacadas, logo ela corre até o quarto dos meninos.
– Vamos, acordem. –
Fala ela em tom baixinho enquanto cutuca Yoku.
Eles logo acordam
totalmente confusos, sem saber o que esta acontecendo Kitai então pergunta:
– O que esta
acontecendo?
– Estamos sendo
atacados. – Responde a velha.
– Por que? –
Pergunta Yoku.
– Eu não sei e isso
também não importa agora. – Retruca a velha.
Os homens que estão
atacando o vilarejo estão se aproximando da casa de Yuma.
– Se escondam na
floresta. – Diz a velha com os olhos marejados e a mão nas costas dos meninos.
– Mas mãe! –
Exclamou Yoku enquanto as lagrimas corriam de seus olhos.
– Vão rápido! É a
única chance de vocês. – A velha então desaba em lagrimas.
– Vamos Yoku. – Fala
Kitai em um tom baixinho e o semblante sério.
– Kitai, me prometa
que vai cuidar do seu irmão.
Kitai apenas acena
com a cabeça, pega o irmão pelo braço e sai correndo pela porta dos fundos.
A velha começa a
rezar para os seus deuses enquanto aguarda a morte.
Kitai vê um homem de
sobretudo entrar na antiga casa deles, mas não para de correr.
Após uma longa
distancia percorrida eles param para descansar, Yoku ainda esta chorando.
– Chorar não vai trazê-la de volta! – Kitai
esta tomado pela raiva.
– Mas... Mas... O
que vamos fazer agora? – Yoku fala soluçando.
– Vamos sobreviver,
ficar fortes e acabar com aquele cara! – Kitai exclama com muita raiva.
A noite não estava
muito fria, eles dormiram entre as raízes de uma grande árvore, o lugar até que
parecia bom.
Eles ficaram ali por
alguns dias, se alimentavam de frutas e às vezes caçavam, a comida era pouca,
mas dava pra sobreviver.
Logo ali tinha um
riacho onde eles pescavam, pegavam água para beber e tomavam banho.
Yoku chorava em
silencio todas as noites, Kitai passava a maior parte do tempo levantando peso,
fazendo corridas e dando socos no vento, na esperança de ficar forte.
Mais algumas semanas
se passaram, Kitai se sentia cada vez mais forte e Yoku se tornou um exímio pescador.
– Estou pronto para
enfrentá-lo. – Diz Kitai em um tom bastante calmo.
– Você está maluco?
– Se não quiser vir
comigo, pode ficar aqui e me esperar.
– Não, eu vou com
você. – Diz Yoku encarando o irmão.
Então eles partem em
direção ao vilarejo, Kitai leva consigo algumas armas que ele fez na noite
passada, uma pedra lapidada com o formato de uma espada e uma lança feita de um
galho de árvore.
Após uma longa
caminhada eles se aproximam do extinto vilarejo que agora mais parece um acampamento
militar, mais de dez homens com roupas ninja e bem armados.
– Eles são muitos. –
Diz Yoku com os olhos arregalados.
– Não vamos matar
todos, um já é o bastante. – falou Kitai com um olhar que amedrontou o próprio
irmão.
Lentamente os dois
percorrem em torno do acampamento, eles param atrás de uma árvore, Kitai então
avista o tal homem que ele quer morto.
– Calma Kitai, eles
não podem nos ver, vamos esperar uma oportunidade melhor. – Disse Yoku olhando
firmemente para o irmão.
– Eu sei! Vamos
esperar a noite cair. – Kitai estava com
a voz embargada.
Já é noite e as
estrelas iluminam o céu, uma lua cheia que faz a noite parecer dia, Kitai com
os dentes serrados e suando frio se prepara para atacar.
– Esta na hora. – A tenção é tanta que ele mal
mexe a boca pra falar.
– Kitai. Vamos
deixar para outro dia, esse não é o melhor momento.
– Não esse é o
momento certo!
– Somos apenas
crianças, que chance temos contra ele?
– Nunca saberemos se
não tentarmos. – Diz Kitai com o mesmo olhar de raiva que carrega a algum
tempo.
Kitai avança em direção a casa que era de
Kin, mas Yoku o impede imediatamente.
– Você esta louco! Quer morrer?
– Eu preciso acabar
com isso! Eu não passo um segundo sequer sem pensar nas vidas que ele tirou,
Yuma, o velho Kin, os nossos amigos, ele matou todos!
– Se você quer
morrer, farei isso com você. – Disse Yoku com os olhos marejados e de cabeça
baixa.
Os dois saem
correndo em direção a casa principal, Kitai segura a lança, as lagrimas correm
pelo seu rosto e Yoku engole o choro.
A uns cinco metros
da casa um homem surge em sua frente, ele segura uma espada, sua roupa era
totalmente preta, ele não usava nenhum capuz ou algo que escondesse seu rosto, careca
e com uma cicatriz que ia de cima da sobrancelha direita até o maxilar.
– O que vocês
procuram? – Perguntou o homem.
– Vingança. – Disse
Kitai de cabeça baixa.
O homem deu uma
gargalhada, afinal eles eram apenas crianças, foi então que ainda rindo ele
exclamou:
– Tenebris venha ver
isso!
Tenebris veio
calmamente, olhou para o homem da cicatriz e falou:
– O que foi Jai?
– Eles falaram que
querem vingança. – Falou Jai ainda rindo.
Kitai então encarou
Tenebris, um olhar que ele não havia recebido em nenhuma das guerras que lutou,
um olhar de ódio e ao mesmo tempo de medo.
– Você matou a minha
mãe, meus amigos e o velho rabugento. – Falou Kitai com a voz tremula.
– Eu peço desculpa
garotinho, mas o mundo é dos mais fortes, aceite isso.
– Nunca! – Exclamou
Kitai com lagrimas correndo pelo rosto.
– Sinto muito, mas
terei que matar vocês. – Disse Tenebris calmamente.
Jai então solta
Kitai, o garoto sai correndo em direção a Tenebris, tudo parece estar em câmera
lenta, Kitai serra os dentes, fecha a mão direita, as juntas de seus punhos
estalam. É agora ou nunca, pensa Kitai.
Na pequena distancia percorrida pelo garoto,
a lembrança dos que se foram não o deixaram um segundo sequer.
Tenebris abriu a mão
e lhe acertou um tapa no rosto antes mesmo que ele o tocasse.
Kitai caiu sentado
um pouco mais do que dois metros de Tenebris, que o olhava com um olhar tão
suave e tão inofensivo.
O medo corria nas
veias Kitai, mas o ódio que o tomava era maior, com o lado direito da face
completamente vermelho e dolorido. As lagrimas não caiam mais.
Kitai se levanta
rapidamente e corre novamente em direção a Tenebris, algo está estranho,
Tenebris desvia o olhar por um segundo e uma pequena explosão acontece entre os
dois.
Kitai é jogado para
trás e Tenebris se protege, “o que aconteceu?”, pensa Kitai.
Era difícil de
enxergar, havia muita fumaça, Jai segurava Yoku, Tenebris olhava para os lados
procurando o que causou aquilo.
Em meio a fumaça,
Kitai conseguiu enxergar uma perna, logo viu algo que parecia um sobretudo
vermelho escuro com um símbolo preto na borda que lembrava o formato de uma
chama, o vento provocado pela explosão fazia o sobretudo balançar.